segunda-feira, dezembro 14, 2009
http://www.beatlestube.net/video.php?title=Blackbird
Aquele gatinho, bonitinho, fofinho, o que seria dele, quando o tempo passasse? pensou a menininha dos olhos de amêndoa, aliás, espantados? As gentes antigas diziam que só se espanta quem quer aprender. Vocês agora, perguntam e muito bem e o gatinho? De momento, apenas sei dizer, que o gatinho cresceu. Ficou grande, bonito, estiloso e delicado, conhecido nas redondezas, que elas são enormes, maior que o mundo conhecido, por senhor gato, não fiquem pensando que era senhor de terras, um chefe, um monarca vestido ao estilo João V, era, todavia, o aristocrata da rua, feito de nobre metal, sempre vistoriando os sacos de plástico cheios de compras.
O senhor gato, quando era só gatinho, lembram-se?
Pedrobala
Que-luz é esta, no dia 11 de Dezembro do ano com alguma graça de 2009?
Enfim
sexta-feira, novembro 13, 2009
A propósito do livro "Caim" de José Saramago
Há muito, que penso no deus bíblico, Jeová de seu nome, que parece querer dizer "Eu Sou". Nas suas contradições e maluqueiras, representará o bem? E Lúcifer, o anjo mais belo e inteligente da corte divina representará o mal? O que dizer do deus de Abraão, quando ordena que sacrifique o seu filho, como grande prova de amor, crença, fidelidade, lealdade ou o que quer que seja. Ou nos célebres pactos entre deus e Lúcifer, porque eles conversam e fazem apostas, sendo objectos das suas apostas o ser humano. Coitado de Job.
"Eu Sou" o outro não-é: versão de um feudalismo pró celestial, senhor, vassalo e o servo da gleba obediente, porque não é livre. Se disser a uma criança, entra nessa despensa cheia de chocolates, mas não podes comer nenhum, porque é proíbido. Estarei a ser justo?Desde Giovanni Papini, escritor italiano, com o seu pequeno grande livro "O Diabo" ou "A Neurose Cristã" de Dr. Pierre Solignac ou ainda "Porque não sou cristão", de Bertrand Russel tenho questionado esse deus de Adão e Eva, Noé, Abraão, Moisés, etc., pensando dizia: ele é mau, porque é vingativo, disparatado e maníaco.
Observem esta passagem do livro "Porque não sou cristão", dize o seu autor: "Abordar a questão da existência de Deus, eis uma grande e séria questão, e se me determinasse tratá-la de modo adequado, seria necessário reter-vos aqui até à chegada do reino de Deus. Por isso, espero que me desculpareis por a tratar de um modo um tanto sumário. Sabeis, naturalmente, que a Igreja Católica erigiu em dogma que a existência de Deus pode ser demonstrada pela via racional. É um dogma assaz curioso mas não deixa de o ser. Tornou-se necessário introduzi-lo porque em determinado momento os livre-pensadores adoptaram o hábito de declarar que existiam este e aquele argumentos racionais contra a existência de Deus e que a aceitação dessa existência era matéria de fé. Os argumentos e as razões foram expostos minuciosamente e a Igreja Católica entendeu que lhes devia pôr um ponto final. E adoptou mais esse princípio de que a existência de Deus pode ser demonstrada pela simples via racional, e ela própria estabeleceu o que considerava como argumentos dessa prova. São sem dúvida bastantes, mas contentar-me-ei em invocar alguns…"
E concluindo diz o mesmo autor:
"Todo o conceito de Deus é tirado do velho despotismo oriental. É uma concepção absolutamente indigna de homens livres. Quando sei de pessoas que se curvam nas igrejas confessando-se miseráveis pecadoras, e tudo o mais, tenho isso como desprezível, incompatível com o respeito que devemos a nós próprios. Devemos, ao contrário, olhar o mundo francamente e no seu rosto. Devemos melhorar este mundo e, se ele não é tão bom quanto desejávamos, que ele seja melhor do que o construído no passado pelos outros. Um mundo à nossa medida exige saber, bondade e coragem; não exige uma intensa nostalgia do passado, nem o acorrentar da livre inteligência aos entraves impostos pelas fórmulas que os antigos ignorantes inventaram. O que uma perspectiva do futuro desligada do terror exige é uma visão clara das realidades. Que exige a esperança no futuro não é o refluxo constante a um passado morto, que, estamos certos, será em muito ultrapassado pelo futuro que a nossa inteligência é capaz de criar."
José Saramago, ajudou-me a esquematizar e sintetizar, com acutilante inteligência e ironia, o meu pensamento sobre esse deus bíblico. Viagem surrealista, misto da gaivota Fernão Capelo, estória de liberdade, aprendizagem e amor e Alice no País das Maravilhas, em que Caim não caiu numa toca e utilizando um burro como cápsula do
espaço/tempo movimenta-se pelas folhas do Antigo Testamento.
E Cristo, o operário, talvez místico, talvez crente nesse deus, todavia, não tinha sentimentos vingativos, pelo contrário, foi solidário e divulgou a solidariedade, amou e difundiu o reino do amor, tanto que amou Madalena. Não era rancoroso, foi um libertador de um mundo injusto. Esse mundo inadequado criaram nele a revolta. Será, que Cristo deixou de acreditar no seu pai, no momento da crucificação? Será, que Cristo pensaria que o pai seria como ele? Afinal, o cordeiro foi ele e foi ele mais um dos sacrifícios exigidos por um senhor, senil, que perdeu o contacto com a realidade, dono de uma soberania bipolar.
Concluindo com Saramago: "a única coisa que se sabe de ciência certa" é que "o homem e deus discutiram" e que "a discutir estão ainda."
"Deus meu, meu Deus, repara em mim, porque me abandonaste?
Eli,Eli, lama sabachthani.
13 de Novembro de 2009
João Mariano
quinta-feira, outubro 29, 2009
SUBLIMAÇÃO
Última Súplica
Agora que abutres
pairam em meu redor
e hienas me espreitam
os passos contados
Deixe-me
ao menos
na paz infernal
da minha loucura frustrada
livremente vaguear
por caminhos sonhados
de braço dado com meu cadáver.
Dante Mariano, in "No Reino de Caliban", p. 250.
Lenço branco
Hoje, a memória antiga e implícita
lançou sua lava!
Porém, tomamos consciência
do vulcãozinho que nos rodeia.
Não estou solidário com a vossa dor
porque sinto a dor dentro de mim.
Guardo as lágrimas
num lenço branco.
As lágrimas não são minhas
mas o lenço branco é.
João Mariano
No grito da madrugada
No grito da madrugada
rompem solares raios
simplesmente por em si e em si
transportarem a luz que contêm.
Se ela se erguesse
eu me ajoelhava.
Nem ela se ergueu, nem eu me ajoelhei.
Que ventem os solares ventos
neste translúcido rodar
em volta do próprio eixo
aqui estarei
satélite Sputnik em órbita
tal-qualmente a cadela Laica
a primeira revolução
no éter cristalino do céu.
Que as ondas toquem os címbalos
o morto que dorme acorda
esquece a ordem do pai
faz amor ao amanhecer
e o tempo passando passou.
Ela fugiu
a guitarra uivou.
Exactamente como a loba:
chora canta abraça
ama cheira fica
toca o relógio cor-de-rosa
não é floyd nem money
estado entre o sólido e o gasoso
naftalina?
Se ela se erguesse
eu me ajoelhava.
Nem ela se ergueu, nem eu me ajoelhei.
João Mariano
quarta-feira, outubro 28, 2009
Um título
O que é um título, uma letra, um cheque, um cargo. A rua chegou sem títulos, os jornais ficaram nas redacções. Amanhã à noite logo se vê.
terça-feira, maio 05, 2009
Take
Take one
and a one
and a two
and a three
Ei-lo de novo
e de novo
na força bruta
Tudo a propósito
de um recadinho
vindo do céu
Take two
and a one
and a two
and a three
Celeste vivia no recadinho
mas o céu
não era para a bruta força
Take three
and a one
and a two
and a three
Recadinho numa folha de papel
tenho saudades
não da bruta força não
João Mariano
quarta-feira, abril 15, 2009
Carta Aberta
João, chamado Mariano, pela vontade de seus pais, Laura e Gabriel, dirige-se a V. Ex.ª com a devida vénia e desde já, deseja, que a paz e a sabedoria estejam entre vós.
Pois bem, esta humilde missiva serve para lhe colocar as seguintes questões e formular um pedido:
1- Vivo num país, que não é tropical, mas encontra-se em autêntico caos, não no sentido filosófico do termo, como o princípio do Universo, mas no sentido de balbúrdia, desordem, confusão. Vejamos: a) no meu país os banqueiros e gestores desonestos quando vão à falência o Estado dá-lhes a mão, por outro lado, quando uma pequena empresa se encontra em maus lençóis não há solução; b) os professores estão zangados, os enfermeiros fazem greve, não existem médicos nos Centros de Saúde e a Justiça e os Tribunais não funcionam; c) em suma: toda a gente reclama, o povo faz manifestações, o desemprego é como piolho em costura, veja bem, dizem que a última contou com 200 000 manifestantes.
2- Há dias, Senhor-Engenheiro, contaram-me um caso de uma certa investigação, aqui entre nós, com a duração de quatro anos, leu bem, quatro anos, continuando, parece-me que o investigado será o Primeiro-Ministro do meu país, que terá sido em outros tempos, Ministro do Ambiente. Pois bem, os investigadores vieram a publico afirmar que sofreram pressões, mas não disseram que tipo de pressões, nem quem os pressiona. Como calcula ficámos que nem baratas tontas e zonzas. Mas para tranquilizar o nosso espírito (sabe o Xanax tem tido uma saída espectacular, é mais barato que um complexo vitamínico) o chefe dos investigadores anunciou com pompa e circunstância, que nada daquilo era verdade, estava tudo na santa paz de deus, que de pressão precisavam os pneus dos carros. De imediato, fui verificar a pressão dos quatro pneus do meu carro. Todavia, e, para que dúvidas não se suscitassem iria investigar os investigadores. Foi uma alegria Senhor-Engenheiro, ouvir o chefe dos investigadores, pois a graça é tanta na tristeza deste país.
3- Como V. Ex.ª está sempre a sorrir, olhe quando ligo a televisão e vejo a sua cara de alegria exprimindo um sentimento de benevolência para com os seus adversários, todo o peso e desespero que carrego comigo desaparece, mas como estava a dizer, a propósito do seu sorriso, gostaria muito de ir viver para o seu país, pois, conforme lhe disse, o meu país encontra-se numa autêntica balbúrdia. A título de exemplo dê uma espreitadela neste texto.
«O país perdeu a inteligência e a consciência moral.
Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos.
A prática da vida tem por única direcção a conveniência.
Não há princípio que não seja desmentido.
Não há instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita.
Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.
Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.
Alguns agiotas felizes exploram.
A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.
O povo está na miséria.
Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.
O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.
Diz-se por toda a parte: o país está perdido!»
Isto, Senhor-Engenheiro-José Sócrates, é datado de 1871, tendo sido elaborado através do punho viril e lúcido de Eça de Queirós, no primeiro número de "As Farpas". Pois é: 138 anos, parece que foi hoje.
Como vê Senhor-Engenheiro o meu país está perdido, naufragado, esquecido, condenado por uma doença muito antiga: imbecilidade e inércia. Desculpe este desabafo Senhor-Engenheiro, tenho tanta precisão de me expandir.
Que a graça e o amor que tem por si esteja connosco, regozijai-vos, sede perfeito, sede de um mesmo parecer. Aleluia, todos os santos vos saúdam.
Sem outro assunto de momento, fico à espera, que V. Ex.ª me dê notícias convidando-me para ir viver para o seu país.
Ano da Graça de 2009 D.C.
E.D.
O Cidadão João Mariano
Post Scriptum: Junto um mapa-múndi, com um X no meu país, caso V. Ex.ª tenha dificuldade em encontrá-lo.
quarta-feira, março 11, 2009
Ela não foi
uma primavera de mulher
só com autorização era
Ela e a vassoura
na santa ordem das tradições
permaneciam rainhas do lar doméstico
Depois,
na praça pública
Ela queimou soutiens
ena pá! mulher de vida duvidosa
dama do lupanar
favorita sem lugar
cigarro aceso
nos lábios vermelhos de batom
E hoje?
Comemora-se um animal raro?
Quem tem medo do órgão glandular
que segrega o leite materno?
Quem soltou os colhões*
dos calções que os prendem?
Quem libertou as ilhargas
e sacudiu o seu protector?
Queluz, 11 de Março de 2009
João Mariano
*(Do latim colèu-, «testículo», pelo latim vulgar coleóne-, «id.»)
quarta-feira, janeiro 21, 2009
Chama e Fumo
Medita no que vais fazer:
O fumo vem, a chama passa...
Gozo cruel, ventura escassa,
Dono do meu e do teu ser,
Amor - chama, e, depois, fumaça...
Tanto ele queima! e, por desgraça,
Queimado o que melhor houver,
O fumo vem, a chama passa...
Paixão puríssima ou devassa,
Triste ou feliz, pena ou prazer,
Amor - chama, e, depois, fumaça...
A cada par que a aurora enlaça,
Como é pungente o entardecer!
O fumo vem, a chama passa...
Antes, todo ele é gostoso e graça.
Amor, fogueira linda a arder!
Amor - chama, e, depois, fumaça...
Porquanto, mal se satisfaça,
(Como te poderei dizer?...)
O fumo vem, a chama passa...
A chama queima. O fumo embaça.
Tão triste que é! Mas... tem de ser...
Amor?... - a chama, e, depois, fumaça:
O fumo vem, a chama passa...
Manuel Bandeira, Poeta do Recife, a Veneza do Brasil