domingo, janeiro 24, 2016
Hades
Ponto cardinal
rouxinol cantando
pelos vagos e verdes campos…
Um dia chegará até mim
numa ligeira brisa
transpondo o cheiro da Primavera
No meu céu bordado de estrelas
penso em ti e não sou eu: sou feliz!
Clarim da madrugada,
o galo anunciara nova aurora
Seria dia de chuva
quando nossos lábios se misturaram?
Em silêncio permaneceram…
Serão eles recíprocos?
Pois, em silêncio ficaram…
Os deuses anunciavam
Todavia, os magos, que se diziam reis
nada trouxeram,
nem ouro, nem mirra, nem incenso
Chovemos em segredo no chão
Consagrado pela nocturna fogueira!
João Mariano
quinta-feira, agosto 21, 2014
quarta-feira, janeiro 15, 2014
Morreu o Comandante da minha Infância
“Aprendemos a querer-te, na
tua querida presença… seguiremos em frente.”
Morreu o
Comandante da minha Infância
Meu irmão
disse:
Sofro só,
só não
uma estrela
surgiu
no negro
manto de cetim.
Neste
entretanto penso:
Entre o
sofrimento
e a solidão
existe um
piscar de luz
uma Lua
quente
Pitonisa de
redobradas madrugadas.
João Mariano
Édito para habilitação aos subscritores falecidos
Eu,
assinante, ao enganar a vida,
depois
de morto declaro:
não
precisar da minha superfície inferior ao chão
Eis-me
aqui de pé
recusando
cumprir esta ordem judicial
publicada
nos melhores jornais
da
minha querida região!
Bela
é a tua face
e
no inquieto navio sem mar
sinto
o ritmo dos teus passos
Deixa-me
sonhar o teu sonho
tamarindeiro
austero.
João Mariano
quinta-feira, junho 27, 2013
Riacho-Sem-Nome
Perto da minha casa existe um riacho. Não sei o seu nome. O riacho perto
da minha casa vai ao encontro do rio Jamor e o rio Jamor corre para chegar a um
rio muito grande chamado Tejo. Vocês sabem o que é um afluente? É um rio que se
vai juntar a outro rio.
Como não sei o nome do riacho, vou chamá-lo Riacho-Sem-Nome. Aqui há
tempos um vizinho contou-me, na época ele era criança, que tomava banho,
pescava e brincava com outros meninos no Riacho-Sem-Nome. Depois iam beber
leite fresquinho fornecido por umas vacas que por ali pastavam.
Conto-vos este pequeno relato, porque quando conheci o Riacho-Sem-Nome,
ele parecia um esgoto, toda a gente deitava lixo para as suas águas e as fábricas
poluíam o Riacho-Sem-Nome, contaminando-o, matando os peixes. Aqui entre nós,
as águas não se poluem sozinhas. O meu vizinho e os outros meninos nunca mais
foram brincar com o Riacho-Sem-Nome. Ele tornou-se um riacho muito triste e
sombrio.
Certo dia, as mesmas pessoas, que sujaram e estragaram o Riacho-Sem-Nome,
resolveram limpá-lo e deixaram de poluir as suas águas. Por isso, todos os anos,
começaram a aparecer uns patos de nome Pato real.
O Riacho-Sem-Nome ficou mesmo feliz e contente, porque os patos ao verem
as águas limpinhas, durante os meses de Março e Junho, isto é, na primavera, resolveram
construir as suas casinhas nas suas margens. Nesses
meses, os patos e as patas começam a namorar e acasalam. As mães patas vão para
os seus ninhos e põe os ovos. Depois é vê-las a passear os seus filhinhos, os
patinhos, entre as rochas, debicando aqui, mergulhando ali, com as cabecinhas
dentro de água, procurando pequenas plantas e pequenos sapos.
Os patos machos têm uma cabeça verde e um anel
branco no pescoço, as costas, são cinzentas e o peito de um tom
castanho-escuro. Estas cores tornam-se mais fortes quando é o período de
acasalamento, ficam ainda mais bonitos, para chamar a atenção de uma pata e
conquistar o seu coração. As fêmeas têm um corpo de tom castanho claro e
geralmente são mais pequenas que os machos.
Todas as noites, quando as suas águas correm por entre as pedras e as árvores,
o Riacho-Sem-Nome murmura uma musiquinha. Hoje, deixou de ser triste e sombrio,
por isso, passei a chamá-lo de Riacho-Sem-Nome em homenagem a todas as águas, riachos,
rios e mares, que neste momento, estão tristes e sozinhos.
João Mariano
quarta-feira, abril 17, 2013
O peixe morre
O peixe morre
com o anzol na boca
gancho, ardil
febril com a sua isca
com todos ou não
frita o fígado
órgão maior
secretor da bílis e do fel
há quem os tenha maus
como as naus
que foram ao encontro do Adamastor
na imaginária linha do horizonte
com dor ou com medo
ou com grande soberba
e prósperos troféus
o capitão com grande fama
de tocar os céus enfrentou-o
tinha disforme e grandíssima estatura
dentadura esverdeada
figura medonha e má
coitado de amor padecia
por castigo foi desterrado
e amarrado com correntes a um penedo
ficou no fim-do-mundo
chorando um choro
entre dois oceanos
de formosa e miserável prisão.
João Mariano
quinta-feira, fevereiro 21, 2013
Esta terra não é tua
Esta terra não é tua
“Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: Ame o seu próximo como a si mesmo.” – Cristo, o Operário
Esta terra não te pertence
Regas as tuas sementeiras
com o sangue do teu semelhante
e queres sempre mais sangue
não o ajudas a levantar a carga
que tu determinas
Esta terra não é tua
Esta terra não te pertence
A semente que lanças ao chão
degrada quem te rodeia
porque és pequeno e mísero
Sugado pelo teu apetite devorador
como se um louco fosses
soltando faíscas e flechas
exangue permanece o teu irmão
enfraquecido no catre que lhe subtraíste.
Esta terra não é tua
Esta terra não te pertence.
João Mariano
“Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: Ame o seu próximo como a si mesmo.” – Cristo, o Operário
quinta-feira, fevereiro 07, 2013
Sou pastor de processos
Sou pastor de processos
Pastoreio-os pelas íngremes colinas
da Casa da Justiça
Sou pastor de processos
Alimento-os com papel e tinta
ficam lãzudos e luzidios
depois, gordos, com consistência xaroposa
Sou pastor de processos
Apascento-os
deleitando-me com a sua marcha
quase mórbida, com o seu decurso lânguido
Não curo almas
Sou guardador de processos
que é acordado de manhã
por uma lei maior e inacessível
em perfeita conformidade
com os donos das íngremes colinas.
João Mariano
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