quinta-feira, outubro 29, 2009

SUBLIMAÇÃO

Última Súplica


 


 

Agora que abutres

pairam em meu redor

e hienas me espreitam

os passos contados


 

Deixe-me

ao menos


 

na paz infernal

da minha loucura frustrada

livremente vaguear

por caminhos sonhados

de braço dado com meu cadáver.


 

Dante Mariano, in "No Reino de Caliban", p. 250.


 


 


 

Lenço branco


 

Hoje, a memória antiga e implícita

lançou sua lava!

Porém, tomamos consciência

do vulcãozinho que nos rodeia.

Não estou solidário com a vossa dor

porque sinto a dor dentro de mim.


 

Guardo as lágrimas

num lenço branco.

As lágrimas não são minhas

mas o lenço branco é.


 

João Mariano


 


 


 

No grito da madrugada


 

No grito da madrugada

rompem solares raios

simplesmente por em si e em si

transportarem a luz que contêm.


 

Se ela se erguesse

eu me ajoelhava.

Nem ela se ergueu, nem eu me ajoelhei.


 

Que ventem os solares ventos

neste translúcido rodar

em volta do próprio eixo

aqui estarei

satélite Sputnik em órbita

tal-qualmente a cadela Laica

a primeira revolução

no éter cristalino do céu.


 

Que as ondas toquem os címbalos

o morto que dorme acorda

esquece a ordem do pai

faz amor ao amanhecer

e o tempo passando passou.


 

Ela fugiu

a guitarra uivou.

Exactamente como a loba:

chora canta abraça

ama cheira fica

toca o relógio cor-de-rosa

não é floyd nem money

estado entre o sólido e o gasoso

naftalina?

Se ela se erguesse

eu me ajoelhava.

Nem ela se ergueu, nem eu me ajoelhei.


 

João Mariano

quarta-feira, outubro 28, 2009

Um título

O que é um título, uma letra, um cheque, um cargo. A rua chegou sem títulos, os jornais ficaram nas redacções. Amanhã à noite logo se vê.