Vivemos num país de comentadores ou de mexeriqueiros. Transportam em si a arte da palavra que impressiona e capta. São retóricos, incapazes de utilizarem a palavra que convence e leva à compreensão. Isto é: a arte da demonstração e da refutação. Não têm a perícia em saber discernir o verdadeiro do falso nas afirmações dos outros. Dedicam-se a falar sobre a vida alheia, geralmente com malícia, criando rumores, boatos. São uns desocupados, vivem na ociosidade televisiva, jornalística e revistas de salas de espera. É como viajar de cuecas no Metro, com dois graus centígrados e o país coberto de branco, com a finalidade de agitar a pasmaceira e a rotina
Tal como o sofista prometia tornar “melhores” os jovens que lhes eram confiados, estes comentadores não são conformes com um ideal humano: a sua única ambição é preparar os discípulos para triunfar na vida política, social, económica, futebolística com a finalidade de tomar conta do poder.
Tais ilustres comentadores seguem o seu mestre Protágoras, sofista exímio, segundo o qual “o homem é a medida de todas as coisas”; o que parece justo a um indivíduo ou a uma cidade é para eles justo. Trata-se, portanto, de levar aqueles de quem depende o acesso aos altos cargos a considerar justo aquilo que é vantajoso para o interessado.
Eis os egocêntricos, tal qual se passa na segunda infância, caracterizada pela ausência de distinção entre a realidade pessoal e a realidade objectiva. Não se descobre neles qualquer preocupação científica ou filosófica, aliás, apenas aproveitam aquilo que lhes vai servir para, no momento oportuno, embaraçar o adversário, só o sucesso lhes importa. Dito de outra forma: recorrem sistematicamente a argumentos enganosos, cuja validade é apenas aparente.
Deviam preocupar-se em ganhar madrugadas e não a perder noites.
Queluz, 22 de Janeiro de 2010
João Mariano
sexta-feira, janeiro 22, 2010
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