sexta-feira, abril 04, 2008

8 de Março

"As mulheres portuguesas conheceram até muito tarde o amargo sabor da repressão que só o 25 de Abril arredou. O 8 de Março, como dia que é ao mesmo tempo dia Internacional e dia Nacional da Mulher - dia reprimido pelo Fascismo - serve também para recordar os tempos em que a própria discriminação da Mulher estava inscrita na Constituição de 1933." - Odete Santos

"Auto-retrato

Espáduas brancas palpitantes:
asas no exílio dum corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpera
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis." - Natália Correia

Laura e Laurinha, Neuza e Neuzinha, Érica e Kéké

Para além de tudo
hoje
Laurinha casou
Em Abril nasce Neuzinha
Treze dias depois Kéké,
aqui entre nós codê,
Como ía dizendo
O dia foi-se afirmando
Vi mulheres com flores na mão
E pensei: darei flores?
Tem festa?
Não sei.
Lembrei Sofia Rosa,
Mulher angolana que disse não à renúncia e cobardia
E também lembrei a inscrição
que consta neste coração
Eis o meu chão - Vocês.

João Manuel, filho e pai duas vezes

1 comentário:

neuza disse...

O olhar da lua
Valsando na neve
Chegas numa onda perfumada
Tens passos de um anjo de desejo
Procuras-te, mas tens nevoeiro na alma
Destilas a essência da ambiguidade
Esboças profecias corruptas
Argumentas com o estranho no teu íntimo
Incerta no olhar, convicta na ansiedade
Sempre despiste as perguntas
Ignoraste todas as probabilidades
Apenas planeias a próxima jornada
Consegues prometer sem mentir
Acreditas mas jamais sentes
Traduzes o teu amor em ausência
Convocando cicatrizes da imaginação
Sentinelas protegem-te das emoções
Aceitas que te concedam o mundo
Ofereces o frio olhar da lua
Desdenhando tanto como desconhecendo
Transportas um sorriso letal
Um perigo eremita
A voz do tempo nada te diz
Saboreias o desespero dos outros
Acaricias as feridas que causaste
E quando partes, partes sem dor.