quinta-feira, dezembro 30, 2010

Meu Doce

Tu és
eu não sou
E neste todo
deixo de não ser
porque tu és

Tu és
porque em ti
existe um sentido
e nesse sentido
que tudo é
Tu és

Eu não sou
Tu és o rumo de ti própria

Eu não sou!

Pedrobala

quarta-feira, novembro 17, 2010

Com o coração seguro e sem medo

Com o coração seguro e sem medo
vi distante de tanto imaginar
quem está ausente

Não posso entender este segredo:
de longe vendo
a substância que se encontra na forma gasosa
a uma temperatura inferior à temperatura crítica
e ela
podendo ser reduzida ao estado líquido
por aumento da pressão.

Vapor
Navio movido por máquinas
e de longe…. dá o sinal da minha infância
Sem rio ou porto de mar onde deitar-se

o Vapor partiu…
Fez vrummmm….
A Lua ficou.

Pedrobala

sexta-feira, outubro 08, 2010

Para Tia Alda Lopes da Silva

"Como quem ouve uma melodia muito triste, recordo a casinha em que nasci, no Caleijão." - Chiquinho, Baltazar Lopes da Silva.

"Casa
Antiga velha casa da Passagem
com sobrado e com quintal e alta escada...
Que sombras te navegam nesta hora
de súbitas saudades em viagem?
Oh! Vila da Ribeira Brava, Caboverde." - Ladeira Grande, Gabriel Mariano

Minha Querida Tia

Os anos passam...
e nós?
Raros os momentos juntos
Resguardo na memória esses efémeros tempos
e permaneço atento à química dos meus pés.

Minha Tia, não estarei contigo
neste dia em que o mundo te viu pela primeira vez
(não se diz a idade de uma mulher).
Sabes Titia, o vento anunciou e disse:
Aniversário.
Dizem dos cem.
Respondi: número cardinal ou natural
Ele disse: não tem ordem de série.

Pois bem,
ouvi o som da lira
e os pássaros
estáticos ficaram no céu
o coqueiro curvou-se.

Hoje é dia de festa
Que o corpo e o sangue de Cristo,
O operário,
Estejam presentes neste pão e neste copo de vinho
E assim permanencendo
E aguentando as batidas de furiosos ventos
Sejam o som do violão.

Feliz aniversário Titia, viva bolo e vinho.

João Mariano

terça-feira, setembro 07, 2010

Eram seis da manhã em ponto

Eram seis da manhã em ponto
Quando de ti surgiu
O mergulho nas cálidas águas da Laginha
Longe o teu cabelo trouxe cheiro a mar
Pontche, canela e tumbarin
Na mochila de quem viaja

Na terra, redonda, longinquamente
Luas e luínhas
Com ondas e sem amargura
No dia da independência
Na certa certeza dançaremos.

João Mariano

quinta-feira, agosto 19, 2010

dom salvador (I)




Ainda a madrugada riscava o céu

quando D. salvador

envolto por denso nevoeiro sebastiânico

chegou.

Acredita ser cavaleiro andante

mas não transporta em si

os sonhos de lutar contra moinhos de vento e gigantes

não tem uma Dulcineia,

uma musa, uma inspiração

na escalada de montanhas

na travessia de desertos

ou no cruzar dos mares.



Sem calor e sem amor

vive na escuridão

rasga o vento e o tempo

com pesadelos e delírios

perde o juízo

entende ser o salvador

da república verbal

herdeiro da caixa de Pandora.



Sem moral e sem pudor

nesta intensa verborreia

despreza a memória de seu pai

e corrói o cordão umbilical.



Eis a antítese de D. Quixote!



D. salvador de tez pálida

tronco curvado

falando rispidamente

ou de sorriso sem nexo

ou chorando a vida

perdida que não soube viver

inferno do qual não se liberta

revelando a intolerância dos falsos profetas.

Como águia devoradora do imortal e regenerador fígado

o seu tormento prolonga-se.

Quem o salvará? Sabará?



dom salvador (II)



D. salvador regressou novamente

Novamente regressou a tragédia em pessoa

Trouxe com ele a grande inércia



Palmas para D. salvador

Palmas pela sua pestilenta contribuição

Palmas pela sua repugnante forma

em causar desgraça à vida alheia



O público que fique de pé

Aplauda copiosamente e com ânimo

aquele que, com soberba ridícula

vocifera do fundo da sua cova:

Eu construí! Eu destruí!



Que a Lua se apague

Que as Estrelas se escondam

Excepto o Sol

O grande astro

Iluminará o umbigo de D. salvador

O magnata obsessivo-paranóico da demolição.



Palmas, D. salvador regressou novamente!

quarta-feira, agosto 04, 2010

Cinza + eiro

Para o meu querido cinzeiro




Neste final do mês de Julho

solarengo e quente

encontrei um cinzeiro

Não tinha beatas

Nem cinzas

Não tinha, elegantemente,

um cigarro acesso na sua ourela.



Continha só e apenas

uma chave, agrafos

e alguns pedaços de papel em branco!



O meu peito de espanto se apartou

de tão vil uso

porque neste covil

Meu cinzeiro não viverá.



João Mariano

sexta-feira, maio 14, 2010

Que olhos são estes que vêem o povo

“E entrou Jesus no templo de Deus, e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombos:
- E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa da oração – mas vós a tendes convertido em covil de ladrões.” – S. Mateus, 12.

“Naqueles dias, havendo mui grande multidão, e não tendo que comer, Jesus chamou a si os seus discípulos, e disse-lhes:
- Tenho compaixão da multidão, porque há três dias que estão comigo, e não têm que comer.” – S. Marcos, 8,2.

Eis o homem! Não tenho interesse se Deus que sabe tudo, todo-poderoso e que está ao mesmo tempo em toda a parte, existe. Em mim, partiu, de saco às costas, em viagem, e esqueceu a sua má-criação ou sofrerá de demência. Certo seria, o homem, cujo nome é Jesus ou Joschua, descer à terra e dar com pau em todos os santuários que façam negócio de supostas imagens imaculadas. Afinal quem é o Criador? Santa Bárbara? Vénus? S. Jorge? Apolo? S. Chiquinho?

Oiçam o bezerro de ouro: “Mas, vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte, ajuntou-se o povo a Aarão, e disse-lhe: Levanta-te, faze-nos deuses, que vão adiante de nós: porque, quanto a este Moisés, este homem que nos tirou da terra do Egipto, não sabemos o que lhe sucedeu (....)
E Aarão lhes disse: Arrancai os pendentes de ouro que estão nas orelhas das vossas mulheres, e dos vossos filhos, e das vossas filhas, e trazei-mos (…)
E ele os tomou das suas mãos, e formou o ouro com um buril (cinzel), e fez dele um bezerro de fundição. Então disseram: Estes são os teus deuses, ó Israel, que te tiraram da terra do Egipto.”

Quantos bezerros de ouro tem Fátima? E outros quantos a cidade-estado do Vaticano, monarquia absoluta? Moisés ao quebrar as tábuas do testemunho não atingiu Aarão. O bezerro de pé contínua e Jesus não irá no meio do povo, justo seria, enviar a sua espada e mostrar a sua glória, a nossa glória, a glória de um povo trabalhador e merecedor do chão que pisa. Dito de outra forma: a cristianização da acção directa, concretizada pela humanização, pela abordagem dos problemas concretos dos seres humanos…, a especulação, os cambistas, a defesa intransigente do suor de quem trabalha.

Terra das Amendoeiras, 14 de Maio de 2010, partida do Papa da cidade do Porto.
João Mariano

quinta-feira, abril 22, 2010

Verbo poetar no presente do indicativo

Eu poeto
Tu poetas
Ele poeta
Nós poetamos
Vós poetais
Eles poetam

quinta-feira, abril 15, 2010

QUILOMBO

terça-feira, abril 13, 2010

Unidade e Unicidade

No passado dia 11 de Abril de 2010 terminou o congresso do PSD/PPD. Numa entrevista a um canal de televisão, Paulo Rangel respondendo a uma pergunta do jornalista, a propósito da unidade partidária apregoada por Passos Coelho e em contraponto às várias listas apresentadas ao Conselho Nacional e ao Conselho de Jurisdição do partido supra indicado, aquele respondeu, que o partido estava unido e não se deveria confundir o termo unidade com unicidade.

Pois bem: ou Paulo Rangel não conhece a língua portuguesa ou os dicionários estão errados. Vejamos: o termo unicidade significa a qualidade do que é único. O termo unidade significa, agrupamento de soldados, sob o comando de um chefe, o que pode ser considerado individualmente (em oposição a pluralidade), concórdia de vontades, uniformidade, conformidade, identidade. Em suma união.
Isto parece ser um trocadilho… e não me atrevo a dizer o resto.

sexta-feira, março 19, 2010

Um Filho

Non est hic (não está aqui, ressuscitou)


Um Filho
Quem o fizera na cama
E uma mulher
Cheirando a urzes.

Um Filho
“Dorme, dorme, meu menino…”
No pânico das primeiras dores
O milagre é o anúncio da gravidez
e a espera uma espécie
de tempo de purificação.

Acordou cedo
E no esforço físico dos olhos em síntese disse:
- Voltei de mãos vazias
Por encontrar na alma
O que não sentia.

Pedrobala

O que dirá a pureza inicial

O que dirá a pureza inicial
neste mundo em estado tóxico do encéfalo?

Eu tenho uma fotografia de cariz sexual explícito,
assim considerada pelos obscenos,
como um casco velho de um navio
guardada como acto de penitência.
Todavia, que o melhor fixar de olhos
Examine minuciosamente a nossa miséria.

Tenho a impressão da tua imagem
como uma cicatriz no meu corpo
que não se cansa de abrir .

Vives como uma garganta
uma porta aberta à interrupção definitiva da vida.
És um sinal, como quem invoca um favor divino,
da indigência de todos nós.

Que venham as marés!
Nesta quadra do ano que faz mais calor
levantarei esta peça de ferro forjado
e tu partirás com o vento.
Tua cruz transportada será nos meus braços
e que a vontade seja feita na tua real idade.

Quem percorre a noite
e a noite transforma em fluxo radiante e estimulante?
Oh! olhos da noite
fêmea das fases lunares
os muros multiplicam-se
e amo-te em público.

Senhor, dai-nos guarida
neste covil de feras
os envidraçados da cidade vigiam-nos
como salteadores à solta.

Termo Sem Metro

Ela estava sem disfarce
como se fosse
uma labareda que se eleva.

Era o tempo em que o sol estava abaixo do horizonte
e as brancas paredes do pátio
permaneciam mudas,
as mãos dela
andavam sem reflexão nem tino
como quem se esforça por descobrir
a claridade de uma noite sem lua.

Ela, numa vela,
viu a toalha velha
e deitou-se nas mudas rugas
do branco pátio
porque nua estava ela.

quarta-feira, março 10, 2010

Silêncio

Hoje nesta área plana coberta de areia ou de pequenos seixos
que confina com o mar
Quando caiu a tarde e com o aproximar da noite
Ela despontou distante
como embarcação de pequenas dimensões e sem coberta

Neste momento a estrela
que é o centro do nosso sistema planetário
Mergulhou na grande massa e extensão de água salgada
Retirando-se sem bulício e sem sons dissonantes
Ela contemplou a esfera celeste
recolhendo-se como se tivesse cessado de falar
ou de produzir qualquer som.

João Mariano

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Ladrão em cuecas

Eis o ladino
é dono do supermercado
A gente é séria
e ela agente elaborou
o auto-de-notícia
sem que estivesse pendurada
no morro e sem barracão de zinco.

O ladrão, apanhado,
sem gente, por uma,
pequena janela...

João Mariano

terça-feira, fevereiro 09, 2010

domingo, fevereiro 07, 2010

a paz vem de longe, o homicídio de perto

Biko foi assassinado. África do Sul. Mandela estava preso. Reinava o APARTHEID, o branco era rei o preto escravo. viva Steve Biko.
A palavra é uma arma serena.

ZiGuE zAgUe de dOr

Não Há dor
Relaxa
Vivemos entre duas ondas que podem explodir
Tu eras uma criança eu também
teus lábios viveram nos meus
e os meus nos teus
Sabes quem fomos?

Será que tudo foi feito?
Vamos adoecer
gripados no furacão?
digo Não,
vamos surfar essas ondas
é tempo de partir
Gritar pela dor passada
é não ver a lua brilhante

sente, meu amor, o rumor e o compasso da morte
sinfonia eléctrica
choro
canto oculto na noite de cada um

Não grites
rEsiste e sobrevive
brilha como o soL
como se nos teus dedos
transportasses diamantes
vai... serena
quem éramos?
ninguém sabe quem fomos no quarto abandonado
não chores nos teus anéis de diamante
enquanto o sol brilha
ele passa pelos teus cabelos
e nos ombros nus
inutilmente se esconde no horizonte.

sexta-feira, janeiro 22, 2010

A significação de um termo depende, essencialmente, da estruturação mental daquele que o utiliza

Vivemos num país de comentadores ou de mexeriqueiros. Transportam em si a arte da palavra que impressiona e capta. São retóricos, incapazes de utilizarem a palavra que convence e leva à compreensão. Isto é: a arte da demonstração e da refutação. Não têm a perícia em saber discernir o verdadeiro do falso nas afirmações dos outros. Dedicam-se a falar sobre a vida alheia, geralmente com malícia, criando rumores, boatos. São uns desocupados, vivem na ociosidade televisiva, jornalística e revistas de salas de espera. É como viajar de cuecas no Metro, com dois graus centígrados e o país coberto de branco, com a finalidade de agitar a pasmaceira e a rotina

Tal como o sofista prometia tornar “melhores” os jovens que lhes eram confiados, estes comentadores não são conformes com um ideal humano: a sua única ambição é preparar os discípulos para triunfar na vida política, social, económica, futebolística com a finalidade de tomar conta do poder.

Tais ilustres comentadores seguem o seu mestre Protágoras, sofista exímio, segundo o qual “o homem é a medida de todas as coisas”; o que parece justo a um indivíduo ou a uma cidade é para eles justo. Trata-se, portanto, de levar aqueles de quem depende o acesso aos altos cargos a considerar justo aquilo que é vantajoso para o interessado.

Eis os egocêntricos, tal qual se passa na segunda infância, caracterizada pela ausência de distinção entre a realidade pessoal e a realidade objectiva. Não se descobre neles qualquer preocupação científica ou filosófica, aliás, apenas aproveitam aquilo que lhes vai servir para, no momento oportuno, embaraçar o adversário, só o sucesso lhes importa. Dito de outra forma: recorrem sistematicamente a argumentos enganosos, cuja validade é apenas aparente.

Deviam preocupar-se em ganhar madrugadas e não a perder noites.

Queluz, 22 de Janeiro de 2010

João Mariano