quarta-feira, março 30, 2011

Pedra solta

I
Foi um caminho longo
sem pausas e de costas voltadas
nada fazia prever o sentido
embora no rumo das estradas
tocasse apenas um hino decadente.

II
Estranhas e velhas as cantigas
em dissonantes notas
ecoando em paredes antigas
cujo destino não foi traçado
nas estrelas longínquas
mas no chão batido e pisado
da terra que não pariu.

III
Agora, desconcertante, surge o passado
esse tempo que não é estático
que surpreende sem aviso prévio
como se fosse navio sem rumo
procurando sem encontrar
a enseada d’areia branca da sua âncora.

Na terra que não pariu
o chão batido e pisado não floriu.

João Mariano

quarta-feira, março 23, 2011

Docemente para ti

meu amor
por estar preso
a esta cadeia de ferro,
que me veda
de ir ao teu encontro,
mas não impede
o desejo de ser contigo intensamente,
apenas sei, ó minha primavera,
que sem ti a luz já não existe.
Todavia,
nesta penumbra meio esquecida
da vela de estearina que me ilumina
anseio o cume extenso
em que o nosso amor se aninha.

João Mariano

sexta-feira, março 18, 2011

Pequena estrela do nosso jardim ou Silêncio

Nesta área plana
coberta de areia ou de pequenos seixos
que confina com o mar
a tarde caiu e com o aproximar da noite
surgiste distante e formosa
balançando suavemente o corpo
como embarcação de pequenas dimensões e sem coberta.

Nossos olhos cruzaram-se reciprocamente.

Como corpos marinhos
ligados ao oceano, estrela do nosso jardim,
mergulhamos
na grande massa e extensão de água salgada
abraçados, sem bulício e sem sons dissonantes
contemplando a esfera celeste
e assim recolhidos ficamos
como se tivéssemos cessado de falar
ou de produzir qualquer som.

Nossos lábios uniram-se
e na maré cheia a lua nasceu.

João Mariano

http://www.youtube.com/watch?v=F4y90M9-tP8

Finge que te conheces a ti próprio e serás feliz!

O Sócrates, não o filósofo ateniense, que se dedicava à maiêutica (parto das ideias) dos cidadãos de Atenas, levando-os a colocar em causa os seus juízos de valor acerca de determinado assunto, conduzindo-os a novas ideias do tema em discussão, mas, o José, o engenheiro, pertence a uma geração, que quer ser e não é limpa. É assética. Aparenta ser e não é ambientalista, utiliza veículo automóvel eléctrico para o retrato, é dada ao exercício físico para adquirir dotes físicos e não refresca as ideias morais, éticas e intelectuais. Gosta de gente bonita por dentro (?) e frequenta as passarelas da moda, tem o capricho da educação e a prática dos usos da gente fina, mas não tem instrução, polidez e cortesia.

É uma geração que se vale de uma concepção do ser, que lhe dá armas argumentativas para embaraçar e colocar em contradição os seus oponentes, validando a sua actividade de mago das palavras, de criador de imagens e simulacros daquilo que será o bom, o belo e o justo funcionamento da cidade e do cidadão.

Finge que te conheces a ti próprio e serás feliz!

João Mariano