As crianças morrem
Morrem crianças
Elas, as crianças, saíem de casa
caminhando em direcção à linha do horizonte
deixando o parque infantil em alvoroço
Entregam-se à natureza
- Os pombos esvoaçam no inútil parque infantil -
Pairam à solta
cativeiros de um mundo lunático
os desígnios repousam na vocação originária de ser ovelha perdida.
Nobre sabedoria do destino
Equilibrio necessário
a morte vai-se esquecendo nas colinas do horizonte.
Venham,
as flores anunciam
uma união natural que atravessa o bosque real
não se sabe a razão
mas diz-se que foi fuga do reino da poluição.
João Mariano
sábado, novembro 25, 2006
Momento num Bar
I
- Eu creio em Deus. Ele, representa o radical. Aquilo que não se domina é uma constante procura.
- Seguindo o Cristo conhecemos Deus!
- Lógica conclusão: se através de Cristo conheço Deus, logo creio em a Maria.
- A Madalena? ou a Socorro?
- Mas, Deus permitiu que o Cristo morresse crucificado. Porquê? O Cristo não era um homem bom?
- Se conhecemos Deus, através de Cristo, significa que não conhecíamos Desus, aliás, Deus.
- Afinal, quem teremos de conhecer ou reconhecer?
- O amanhecer ou o crepúsculo?
II
Aquilo que não se domina
é uma constante procura.
Vou sozinho
e o símbolo
de pé
mantém-se.
Por mais iluminadas
que as ruas estejam
há um pouco de nós
a perguntar o que está certo.
Dois pasteis de bacalhau
e umas imperiais...
Não quero que te vás embora
Os bons companheiros dignificam a noite
- aquele sentimento em que nada dizemos e tudo acontece. -
João Mariano
- Eu creio em Deus. Ele, representa o radical. Aquilo que não se domina é uma constante procura.
- Seguindo o Cristo conhecemos Deus!
- Lógica conclusão: se através de Cristo conheço Deus, logo creio em a Maria.
- A Madalena? ou a Socorro?
- Mas, Deus permitiu que o Cristo morresse crucificado. Porquê? O Cristo não era um homem bom?
- Se conhecemos Deus, através de Cristo, significa que não conhecíamos Desus, aliás, Deus.
- Afinal, quem teremos de conhecer ou reconhecer?
- O amanhecer ou o crepúsculo?
II
Aquilo que não se domina
é uma constante procura.
Vou sozinho
e o símbolo
de pé
mantém-se.
Por mais iluminadas
que as ruas estejam
há um pouco de nós
a perguntar o que está certo.
Dois pasteis de bacalhau
e umas imperiais...
Não quero que te vás embora
Os bons companheiros dignificam a noite
- aquele sentimento em que nada dizemos e tudo acontece. -
João Mariano
Jorzinhe
Menino Jorzinhe,
É como muita sabura e felicidade que escrevo esta cartinha para você. Você ahoje faz anos, não é? Por isso, papai tomou um groguinho e mamãe fez um cuscus quente. É pena você não estar mais perto di nós, porque você também comia uma fatiga di cuscus.
Menino Jorzinhe, mamãe manda dizer que gosta muito de você, porque você tem prenda na cabeça.
Jorzinhe, não esqueça de pôr chapéu na cabeça. Quem não tem cabeça não põe chapéu.
Mantenhas para você.
João Mariano
É como muita sabura e felicidade que escrevo esta cartinha para você. Você ahoje faz anos, não é? Por isso, papai tomou um groguinho e mamãe fez um cuscus quente. É pena você não estar mais perto di nós, porque você também comia uma fatiga di cuscus.
Menino Jorzinhe, mamãe manda dizer que gosta muito de você, porque você tem prenda na cabeça.
Jorzinhe, não esqueça de pôr chapéu na cabeça. Quem não tem cabeça não põe chapéu.
Mantenhas para você.
João Mariano
Início
Neste dia acordei
cheio de pena de mim.
Tive de mim tanta pena
que nem de mim me lembrei.
O sol avançou no espaço azul
e a pena de mim se apoderou
ficou tão forte e distante
que o azul desapareceu
e o sol se espantou.
Agora, sentado
em meu banco
no meu quintal
debaixo da sombra da mangueira
que plantei
oiço as águas do poço.
Foi uma pedra que atirei.
Fim
João Mariano
cheio de pena de mim.
Tive de mim tanta pena
que nem de mim me lembrei.
O sol avançou no espaço azul
e a pena de mim se apoderou
ficou tão forte e distante
que o azul desapareceu
e o sol se espantou.
Agora, sentado
em meu banco
no meu quintal
debaixo da sombra da mangueira
que plantei
oiço as águas do poço.
Foi uma pedra que atirei.
Fim
João Mariano
"Palavra Sagrada" - Agostinho Neto
Longos e dolorosos anos
Mãe Negra sofreu
Hoje tem Akuá e Mantorras
Zé Kalanga e Mendonça
Angôla chegou
A Palanca fez qui-fô-quiô
O candengue jogou
Togo e seu penteado
Viva Angolê
Sonha Mamãe África.
João Mariano
Mãe Negra sofreu
Hoje tem Akuá e Mantorras
Zé Kalanga e Mendonça
Angôla chegou
A Palanca fez qui-fô-quiô
O candengue jogou
Togo e seu penteado
Viva Angolê
Sonha Mamãe África.
João Mariano
O eterno retorno
"Necessário vos é nascer de novo." - Jesus, o Cristo, filho de José, o operário - João, 3.7
Ana, a Baptista
Cansada do seu falecido marido
De tanto o amar
Dele não se quer lembrar.
A casa à beira-mar nascida
Longe dos fumos da cidade
Tornou-se lembrança
Pesada, todavia,
Como se idade não tivesse.
Hoje, Ana, não sabe ou não quer ninguém
Mas, se alguém não fosse
Como seu falecido e amado marido
De novo se enamorava?
João Mariano
Ana, a Baptista
Cansada do seu falecido marido
De tanto o amar
Dele não se quer lembrar.
A casa à beira-mar nascida
Longe dos fumos da cidade
Tornou-se lembrança
Pesada, todavia,
Como se idade não tivesse.
Hoje, Ana, não sabe ou não quer ninguém
Mas, se alguém não fosse
Como seu falecido e amado marido
De novo se enamorava?
João Mariano
Se um sol houvera em San Pedro de Sintra
Se um sol houvera em San Pedro de Sintra
Só em ti esse pretérito mais-que-perfeito-simples aconteceu.
Eis, o dialéctico sol ou o dilecto som
Ele, transporta em si
A cor e a dor
Das ilhas de S. Tomé e Prícipe
E das ilhas do Caboverde.
João Mariano
Só em ti esse pretérito mais-que-perfeito-simples aconteceu.
Eis, o dialéctico sol ou o dilecto som
Ele, transporta em si
A cor e a dor
Das ilhas de S. Tomé e Prícipe
E das ilhas do Caboverde.
João Mariano
quarta-feira, novembro 22, 2006
Outono
Foi
uma viagem de automóvel
ainda o dia ía descambando, sereno,
quando chegamos.
As folhas amarelas e verdes
outras
vermelhas
anunciavam a estação.
Gosto do Outono - ele disse.
Será, que ele transporta a melancolia
ou o anúncio da morte?
- perguntei -
De facto esta estação
transporta em si a finitude.
E o fim
Não será tão belo como o início?
João Mariano
uma viagem de automóvel
ainda o dia ía descambando, sereno,
quando chegamos.
As folhas amarelas e verdes
outras
vermelhas
anunciavam a estação.
Gosto do Outono - ele disse.
Será, que ele transporta a melancolia
ou o anúncio da morte?
- perguntei -
De facto esta estação
transporta em si a finitude.
E o fim
Não será tão belo como o início?
João Mariano
domingo, novembro 05, 2006
Sonho Místico
Foi a morte de um filho
que nunca nasceu.
Foi uma ida ao hospital
que nunca aconteceu.
E, em uma operação ao cérebro
que não foi executada
morreu um filho.
Levei-o pela mão
(como era enorme o corredor do hospital)
para uma praia rochosa
e em cada rocha de vermelho pintada
e no vermelho exangue floresciam pétalas de incenso.
Nas planas rochas,
Sentadas, as crianças ficavam
e assim ficando
como se budas fossem
sorriam para o sol
anunciando a noite que chegava.
JonhBenzina
que nunca nasceu.
Foi uma ida ao hospital
que nunca aconteceu.
E, em uma operação ao cérebro
que não foi executada
morreu um filho.
Levei-o pela mão
(como era enorme o corredor do hospital)
para uma praia rochosa
e em cada rocha de vermelho pintada
e no vermelho exangue floresciam pétalas de incenso.
Nas planas rochas,
Sentadas, as crianças ficavam
e assim ficando
como se budas fossem
sorriam para o sol
anunciando a noite que chegava.
JonhBenzina
Encontro
O Baile (ou encontro)
Toca a viola
Toca o tambor
Assim vai o baile.
Dança dali, come daqui.
Gentes alegres.
Última moda, roda última.
Vestidos de fim-de-semana,
Calças de início-de-semana.
Conceitos vários
unidos no salão nobre dos bombeiros.
Fim de série.
Descansar.
Ei! uma cerveja.
Toca a viola
Toca o tambor e recomeça a vida que não esquecemos.
A menina dança?
Danço!
Bailam alegres…
Janta comigo?
Tu
Tristeza linda
Enfeitiçada pela mão da bruxa
Não contes a ninguém,
Que te vi linda e pura
pura como águas cristalinas de um rio.
Não pares, corre…
Livre como o vento voa…
Livre como o mar ondula…
Segue o rumo da estrela brilhante
Não contes a ninguém
Que te vi linda e pura.
E assim vamos a correr pela planície coberta de flores de sabor a trigo.
Girámos à volta do trigo, com cheiro a papoila.
O sol brilha, as nuvens sorriem. O rio pulula entre as pedras. O melro canta a sua canção.
Como é bela a natureza.
Calamidade
O mar está calmo.
O céu está calmo?
O tempo está calmo.
Está tudo calmo?
Ele está calmo.
Tu estás calmo?
O peixe está calmo.
O vento está calmo.
Tudo está calmo.
Eu não tenho calma.
O olmo não está calmo.
A alma não está alma.
Fico sentado na cama
E sinto o vento vibrar
nas arestas da janela
Como se fosse dentro de mim.
Estou preocupado com o meu chinfrim.
De resto nada resta, nesta aresta do meu ser.
Coisas
Saíu o comboio das cinco.
Apanha-se o carro das cinco e cinco.
Ora, cinco e cinco faz dez,
dez noves fora um.
Quem é um?
A reunião de todos os números?
Uma banana será a banana?
Alegria de viver
sentindo o aroma
da flor silvestre.
Incomoda-me o barulho,
o barulho das máquinas,
o cheiro enjoa-me.
Como é bom ouvir o silêncio das árvores
O murmurar do rio,
A alegria das flores
O cantar melódico do pássaro…
e a angustia
a angustia penetrando como espada estafada.
JonhBenzina
Toca a viola
Toca o tambor
Assim vai o baile.
Dança dali, come daqui.
Gentes alegres.
Última moda, roda última.
Vestidos de fim-de-semana,
Calças de início-de-semana.
Conceitos vários
unidos no salão nobre dos bombeiros.
Fim de série.
Descansar.
Ei! uma cerveja.
Toca a viola
Toca o tambor e recomeça a vida que não esquecemos.
A menina dança?
Danço!
Bailam alegres…
Janta comigo?
Tu
Tristeza linda
Enfeitiçada pela mão da bruxa
Não contes a ninguém,
Que te vi linda e pura
pura como águas cristalinas de um rio.
Não pares, corre…
Livre como o vento voa…
Livre como o mar ondula…
Segue o rumo da estrela brilhante
Não contes a ninguém
Que te vi linda e pura.
E assim vamos a correr pela planície coberta de flores de sabor a trigo.
Girámos à volta do trigo, com cheiro a papoila.
O sol brilha, as nuvens sorriem. O rio pulula entre as pedras. O melro canta a sua canção.
Como é bela a natureza.
Calamidade
O mar está calmo.
O céu está calmo?
O tempo está calmo.
Está tudo calmo?
Ele está calmo.
Tu estás calmo?
O peixe está calmo.
O vento está calmo.
Tudo está calmo.
Eu não tenho calma.
O olmo não está calmo.
A alma não está alma.
Fico sentado na cama
E sinto o vento vibrar
nas arestas da janela
Como se fosse dentro de mim.
Estou preocupado com o meu chinfrim.
De resto nada resta, nesta aresta do meu ser.
Coisas
Saíu o comboio das cinco.
Apanha-se o carro das cinco e cinco.
Ora, cinco e cinco faz dez,
dez noves fora um.
Quem é um?
A reunião de todos os números?
Uma banana será a banana?
Alegria de viver
sentindo o aroma
da flor silvestre.
Incomoda-me o barulho,
o barulho das máquinas,
o cheiro enjoa-me.
Como é bom ouvir o silêncio das árvores
O murmurar do rio,
A alegria das flores
O cantar melódico do pássaro…
e a angustia
a angustia penetrando como espada estafada.
JonhBenzina
Não quero chorar
Homenagem a Anselmo Mariano
Ninguém me contou.
Mas eu sei.
O nosso primo ficou
pertinho do céu.
Ele é de trato fácil.
Elegante como a sombra da acácia.
O nosso primo
Partiu num veleiro,
Ele é Anselmo
e no silêncio
José regressou
ao mar das ilhas do cabo-verde.
João Mariano
Queluz, 18 de Março de 2005
Ninguém me contou.
Mas eu sei.
O nosso primo ficou
pertinho do céu.
Ele é de trato fácil.
Elegante como a sombra da acácia.
O nosso primo
Partiu num veleiro,
Ele é Anselmo
e no silêncio
José regressou
ao mar das ilhas do cabo-verde.
João Mariano
Queluz, 18 de Março de 2005
A Curva
Hoje tem Sintra
Amanhã tem Amadora
Depois Amadora-Sintra
Hospital é referência
Casa ping-pong
Teve desmaio
Diarreia só mental
E nos médicos
O vil metal não conta
Contou contos
Nem escudos, nem euros
Mas são vida
Nesta noite de mil
Amanhã tem Amadora
Depois Amadora-Sintra
Hospital é referência
Casa ping-pong
Teve desmaio
Diarreia só mental
E nos médicos
O vil metal não conta
Contou contos
Nem escudos, nem euros
Mas são vida
Nesta noite de mil
E agora meus amigos
Acenderam os cigarros?
Agora que a Primavera partiu
Não te esquecerei
Mesmo que chames por mim
Chorarei por ti num dia de chuva.
João Mariano
João Mariano
sábado, novembro 04, 2006
Olhos
O mundo não é maior
que a pupila dos meus olhos:
tem a grandeza
da tua inquietação e das tuas revoltas.
Hoje crispei as mãos à beira-mar
e tive saudades estranhas,
dos teus olhos, vivas opalas,
do teu ar de triunfo iluminado com que andas
de terras com bosques de névoa, rios de prata e montanhas de ouro.
Hoje crispei as mãos à beira-mar
e por meu cérebro vai passando,
tal como em seu apartamento,
uma gata de todo encantamento
e de inaudito miado brando.
E assim pensando fui ficando...
João Mariano
que a pupila dos meus olhos:
tem a grandeza
da tua inquietação e das tuas revoltas.
Hoje crispei as mãos à beira-mar
e tive saudades estranhas,
dos teus olhos, vivas opalas,
do teu ar de triunfo iluminado com que andas
de terras com bosques de névoa, rios de prata e montanhas de ouro.
Hoje crispei as mãos à beira-mar
e por meu cérebro vai passando,
tal como em seu apartamento,
uma gata de todo encantamento
e de inaudito miado brando.
E assim pensando fui ficando...
João Mariano
Viagem
“Hora di bai
Hora di dor
djam qrê
pa el ca manchê.” - Eugénio Tavares
I
Tinha sol na janela
quando Tio Dani
percorreu cada quarto da nossa casa
como se chão sagrado pisasse.
Ah! como suas lágrimas abraçaram o seu irmão..
Hoje
Tio Dani,
em silêncio
chorou,
concerteza
navegou entre as Ilhas
e entre elas
o encontro
o inevitável encontro aconteceu.
Em cada quarto
procurou o silêncio da família.
II
Tinha Dona Titia.
e tinha senhor Nicolau Gomes.
Senhor Nicolau Gomes é homem alto, magro, com cara espadaúda. Tem um falar sussurrado. É dono de um estabelecimento. Vende de tudo. Mandioca, farinha, tabaco, café.
Dona Titia é senhora para os seus oitenta e tal anos. Vive numa casa grande e velha. Velha por dentro, porque por fora está toda pintada de azul. Dona Titia é senhora antiga. Vive com os fantasmas do passado e a fotografia do marido na parede.
João Mariano
Hora di dor
djam qrê
pa el ca manchê.” - Eugénio Tavares
I
Tinha sol na janela
quando Tio Dani
percorreu cada quarto da nossa casa
como se chão sagrado pisasse.
Ah! como suas lágrimas abraçaram o seu irmão..
Hoje
Tio Dani,
em silêncio
chorou,
concerteza
navegou entre as Ilhas
e entre elas
o encontro
o inevitável encontro aconteceu.
Em cada quarto
procurou o silêncio da família.
II
Tinha Dona Titia.
e tinha senhor Nicolau Gomes.
Senhor Nicolau Gomes é homem alto, magro, com cara espadaúda. Tem um falar sussurrado. É dono de um estabelecimento. Vende de tudo. Mandioca, farinha, tabaco, café.
Dona Titia é senhora para os seus oitenta e tal anos. Vive numa casa grande e velha. Velha por dentro, porque por fora está toda pintada de azul. Dona Titia é senhora antiga. Vive com os fantasmas do passado e a fotografia do marido na parede.
João Mariano
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