sábado, outubro 28, 2006

Nada está perdido

I
Lua primitiva

Verde e Azul
Azulada no sentimento
tatuada no tornozelo.

Nesta saliência óssea,
articulação do pé com a perna
canta novo ser
em madrugada renascida.

Abre as asas em flor
porque tu sorriste
e o céu se abriu.
Se os olhos ergo
da vista se me alcança a esperança
e o devaneio se perde
na divagação da minha consciência.

Tu sorriste
e o céu se abriu.

II

Nada está perdido

Se na raiz das palavras vigiadas
ressoa o velho rio…
Se nas grades se engravinha
a hera renovada
que havia à nossa porta
então nada está perdido.

Na hora intervalar
dos pombais da memória
revoadas de asas
palpitam no silêncio:

é o quintal da tia Anita
cheirando a madressilva
- minha alma parece abelha tonta –

é a velha avó Teodora
e os dois tostões que me dava
que dois tostões são um mundo

é o grande armário de parede
onde à tarde me escondia
a procurar velharias
em sensações de pirataria

é a varanda da Assunção
com seus ninhos de pardal sob as traves
- como eu era feliz Crusoé nessa Ilha –

Todavia, porém
Um grito rompe
Fogem as asas
e caio na cela.

Ah! este estranho sabor
a lama
a flores pisadas
este estranho sabor a passado agredido.
III

Acróstico para Míriam

Mar sereno na baía
Inquieta luz no olhar
Risonha vereda encantada.
Inefável brisa, em um
Amanhecer em trânsito.
Madrugada, zénite em alvoroço.

Canta estrela d’alvorada
Antes que o voou da andorinha
Te mostre, em breve brisa,
Incolor todavia, o
Alimento do meu desejo.
João Mariano

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